quarta-feira, 15 de novembro de 2017

LITERATURA PÓS MODERNISTA


Pyzik utiliza, ao pensar sobre a pós-modernidade, a definição elaborada por Mark Lilla sobre o conceito. Lilla denominou pós-modernidade como algo que faz parte de uma convicção promovida por diversos pensadores (Derrida, Foucault, Lyotard, Baudrillard, Adorno, Benjamin, Kristeva), que contribuíram, de alguma maneira, para um fim político emancipatório compartilhado. Segundo Pyzik, os debates culturais e históricos sobre obras literárias, fonográficas e televisivas tornaram-se necessários para entender a produção de significados e o processo de formação de valores vigentes.


Hogue entende a pós-modernidade como uma nova era da cultura e econômia social, a qual rompe de forma epistemológica com a modernidade. Para Hogue, a pós-modernidade joga com a universalidade da razão instrumental e rejeita os postulados sociais, sexuais, psicológicos, filosóficos e históricos que são totalizantes, metafísicos e essencialistas. Então os escritores pós-modernos buscam problematizar e rejeitar o que foi preconcebido e naturalizado na sociedade, como o sexismo e o racismo e, a partir disto, interrogar os valores presados na sociedade. Hogue acredita que os escritores pós-modernos que representam as minorias (negros, indígenas e mulheres) buscam novas formas e paradigmas culturais, sexuais, de gênero e sociais para reescreverem suas representações na literatura, fora dos estereótipos e convenções repressivas da literatura Moderna eurocêntrica. Desta forma, o pós-modernismo, para Hogue, é uma reação ao modernismo, à razão ocidental, ao patriarcado e a outras ideias do Iluminismo, e à supremacia branca, sexista.

Conforme Pyzik cita o que Colin Falck escreveu sobre a literatura pós-moderna, Falck acredita que o pós-modernismo não precisa ser niilista ou conceber o mundo em estágios de ruptura, nem reduzir a literatura a uma competição consigo mesma. Pyzik notou que a literatura pós-moderna pode estar nos mais variados moldes, e até mesclar estilos. As principais características da literatura pós-moderna utilizada por Lyotard e Bauman são compostas por protagonistas, iniciativas e objetivos nobres. Os objetivos para este tipo de literatura procuram focar nas mudanças de diferentes tipos de identidades ao longo do desenvolvimento dos contextos.

Assim, a literatura pós-moderna não busca inovar no gênero, mas o enredo tem uma importância em desnaturalizar questões por muito tempo naturalizadas. As problematizações trazidas por esta literatura contribuem para representações dos mais diversos temas e protagonismos.

Alguns exemplos de poemas pós-modernistas por Mário de Andrade:


Poemas da amiga VII 

Gosto de estar a teu lado, 
Sem brilho. 
Tua presença é uma carne de peixe, 
De resistência mansa e de um branco 
Ecoando azuis profundos. 

Eu tenho liberdade em ti. 
Anoiteço feito um bairro, 
Sem brilho algum. 

Estamos no interior duma asa 
Que fechou.” 


"Lundu do Escritor Difícil

Eu sou um escritor difícil
Que a muita gente enquizila,
Porém essa culpa é fácil
De se acabar duma vez:
É só tirar a cortina
Que entra luz nesta escurez.

Cortina de brim caipora,
Com teia caranguejeira
E enfeite ruim de caipira,
Fale fala brasileira
Que você enxerga bonito
Tanta luz nesta capoeira
Tal-e-qual numa gupiara.

Misturo tudo num saco,
Mas gaúcho maranhense
Que pára no Mato Grosso,
Bate este angu de caroço
Ver sopa de caruru;
A vida é mesmo um buraco,
Bobo é quem não é tatu!

Eu sou um escritor difícil,
Porém culpa de quem é!...
Todo difícil é fácil,
Abasta a gente saber.
Bajé, pixé, chué, ôh "xavié"
De tão fácil virou fóssil,
O difícil é aprender!

Virtude de urubutinga
De enxergar tudo de longe!
Não carece vestir tanga
Pra penetrar meu caçanje!
Você sabe o francês "singe"
Mas não sabe o que é guariba?
— Pois é macaco, seu mano,
Que só sabe o que é da estranja."


"Quando Eu Morrer Quero Ficar

Quando eu morrer quero ficar, 
Não contem aos meus inimigos,
Sepultado em minha cidade, 
Saudade. 

Meus pés enterrem na rua Aurora, 
No Paissandu deixem meu sexo, 
Na Lopes Chaves a cabeça 
Esqueçam. 

No Pátio do Colégio afundem
O meu coração paulistano: 
Um coração vivo e um defunto 
Bem juntos.

Escondam no Correio o ouvido 
Direito, o esquerdo nos Telégrafos, 
Quero saber da vida alheia, 
Sereia.

O nariz guardem nos rosais,
A língua no alto do Ipiranga
Para cantar a liberdade. 
Saudade...

Os olhos lá no Jaraguá
Assistirão ao que há de vir,
O joelho na Universidade,
Saudade...

As mãos atirem por aí,
Que desvivam como viveram,
As tripas atirem pro Diabo,
Que o espírito será de Deus.
Adeus."


"Aceitarás o Amor Como Eu o Encaro?

Aceitarás o amor como eu o encaro ?... 
...Azul bem leve, um nimbo, suavemente 
Guarda-te a imagem, como um anteparo 
Contra estes móveis de banal presente.

Tudo o que há de melhor e de mais raro 
Vive em teu corpo nu de adolescente, 
A perna assim jogada e o braço, o claro 
Olhar preso no meu, perdidamente.

Não exijas mais nada. Não desejo 
Também mais nada, só te olhar, enquanto 
A realidade é simples, e isto apenas.

Que grandeza... a evasão total do pejo 
Que nasce das imperfeições. O encanto 
Que nasce das adorações serenas."

Mario Raul Morais de Andrade (São Paulo, 9 de outubro de 1893 — São Paulo, 25 de fevereiro de 1945) foi um poeta, escritor, crítico literário, musicólogo, folclorista, ensaísta brasileiro. Ele foi um dos pioneiros da poesia moderna brasileira com a publicação de seu livro Pauliceia Desvairada em 1922. Mario exerceu uma grande influência na literatura moderna brasileira e, como ensaísta e estudioso—foi um pioneiro do campo da etnomusicologia—sua influência transcendeu as fronteiras do Brasil.

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